CARTA DE MAUDE BARLOW AOS ORGANIZADORES DO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA
Algumas semanas atrás, recebi um convite para participar na reunião preparatória para o denominado “Processo dos cidadãos” do Fórum Mundial da Água. Eu entendo que esta reunião faz parte do esforço do Conselho Mundial da Água para coordenar organizações da sociedade civil antes da realização do Fórum Mundial da Água que terá lugar em 2018 no Brasil.
Estou escrevendo para explicar as razões pelas quais eu e as organizações abaixo assinadas não aceitamos o convite para participar nesta reunião ou em qualquer processo futuro associado ao Fórum Mundial da Água.
Como organizações de defesa global da água, há muito que nos opomos ao papel do Fórum Mundial da Água na promoção da privatização e mercantilização da água. O Fórum Mundial da Água não é um espaço legítimo de decisão política. É uma feira empresarial organizada pelo Conselho Mundial da Água – um consórcio de múltiplas partes interessadas em promover soluções para a crise da água que serve os interesses das multinacionais.
Estamos consternados com o facto de as agências das Nações Unidas e Governos de todo o mundo emprestarem credibilidade ao Fórum Mundial da Água como plataforma de tomada de decisão, participando neste processo. Os fundos públicos não devem ser gastos em mega convenções do sector privado.
Em vez disso, apelamos à realização de um Fórum Mundial genuíno e verdadeiramente democrático para abordar a crise mundial da água através da promoção de políticas tendentes ao cumprimento dos direitos humanos à água e ao saneamento e à protecção de água doce como parte dos bens comuns globais.
As políticas de água não devem ser discutidas ou elaboradas à porta fechada em caras feiras empresariais. As multinacionais cujas ações são responsáveis pela destruição de bacias hidrográficas ou por negarem o acesso às populações mais vulneráveis não deve ser recompensado com um assento na mesa de tomada de decisões.
Como defensores da água não emprestamos as nossas vozes a um fórum de interesses corporativos participando neste evento ou em qualquer um dos processos preparatórios. Em vez disso, apoiaremos as actividades organizadas por movimentos e grupos brasileiros locais em solidariedade com as campanhas contra a agenda do governo Temer que pretende vender concessionárias de água e saneamento públicos e abastecimento de água doce no Brasil.
Maude Marlow, Presidente do Conselho de Canadienses e fundadora do Projeto Planeta Azul
Original em: http://www.blueplanetproject.net/index.php/water-justice-groups-denounce-world-water-forums-citizens-process-2/