Privatização só serve os interesses do capital financeiro
Em 2016, o grupo português Mota-Engil, accionista maioritário da Indáqua, sendo o outro accionista o grupo alemão de seguros Talanx, vendeu a sua participação ao grupo israelita Miya pelo valor de 60 milhões de euros.
Passados três anos, a Indáqua, uma das maiores concessionárias privadas de serviços de água no nosso país, é alvo de nova transacção, comprada desta vez pelo Fundo de capital privado internacional, o Bridgepoint, desconhecendo-se os valores envolvidos neste negócio.
Um negócio que, tal como o STAL sempre denunciou, confirma que a financeirização e o crescente domínio do capital estrangeiro do sector da água, consequência intrínseca e indissociável da privatização, seria uma questão de tempo, como de resto aconteceu em todos os sectores abertos ao capital privado. Afinal, as empresas privadas e sociedades anónimas são elas próprias mercadorias, transaccionáveis entre grupos financeiros transnacionais, e desde sempre o capital estrangeiro tem sido o principal beneficiário das privatizações do património público nacional. Para além da Indáqua, recorde-se que a AGS, outrora detida por uma empresa portuguesa de construção, a Somague, é hoje propriedade de dois conglomerados japoneses, a Marubeni e a INJC. Resta apenas a Aquapor como empresa de capital nacional.
Em consequência, os grupos económicos geridos por espanhóis, através da Aqualia, e por chineses da BeWater, que compraram as concessões detidas pela Veolia (ex-Génerale des Eaux), representam já cerca de 30% de um sector que é absolutamente estratégico.
Para o capital financeiro este é um negócio seguramente atractivo. Afinal, trata-se de investir em água, um bem essencial à vida com procura e rentabilidade asseguradas: afinal onde há seres humanos, há sempre potenciais clientes. E onde há escassez, real ou potencial, aí há uma enorme oportunidade de negócio, pois quanto mais escasso é um bem maior é o seu valor económico. Pensam eles: haverá melhor negócio que a vida cotada em bolsa?
Para os municípios que entregaram a água aos grupos privados, submetendo-se assim a interesses não sufragados pelo voto e hipotecando a capacidade de intervenção que a defesa do interesse público exige, o que este negócio comprova, uma vez mais, é que não se pode controlar o que não se possui, sendo que para as populações e para os trabalhadores isto significa que a água e o serviço público continuarão a ser geridos como mercadorias, sujeitos à especulação e a lógicas de maximização do lucro, com as graves consequências económicas e sociais que se conhecem, e que só a luta pode reverter. O STAL continuará por isso a denunciar e a combater o negócio da água e a lutar para que a água permaneça e regresse ao controlo público, por uma gestão pública de qualidade e democrática, condição indissociável para assegurar a todos o direito à água.